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domingo, 24 de fevereiro de 2013

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Como fazer pindas chinesas

Como aquecer pindas

Terapia com Pindas Chinesas (Instituto Bertoli)

TERAPIAS ALTERNATIVAS


DESCRIÇÃO
A descrição das respostas dos entrevistados divide-se em duas partes. Primeiro apresenta-se as categorias (especificações tipificadoras) emergentes da leitura dos relatos dos terapeutas e dos pacientes, respectivamente. As frases em itálicos indicam transcrições literais das entrevistas. Em geral, são frases que sintetizam ou definem as posições dos entrevistados.
1Terapias Alternativas: A percepção dos terapeutas
1.1-Da Procura pelo Tratamento
De acordo com os depoimentos dos terapeutas, suas clientelas formam-se por indicação de outros pacientes ou de outros profissionais; através de divulgação em palestras, programas de rádio e televisão ou encaminhamento por orientadores de entidades religiosas que oferecem tratamentos.
1.2-Dos Sintomas dos Pacientes
A maior demanda, na percepção dos terapeutas, está na esfera das relações interpessoais. São dificuldades no casamento, na família ou no trabalho. São mencionados ainda problemas de depressão, fobias, ansiedade, dificuldades de aprendizagem, insegurança, frigidez e pânico. Há, contudo, pessoas que buscam atendimento por causa de problemas físicos. Nestes casos, as maiores incidências são dores musculares, problemas de coluna, problemas digestivos e obesidade. Foram também mencionados problemas ginecológicos, articulares e circulatórios.
1.3-Dos Pacientes
Na percepção dos terapeutas, as pessoas que procuram os tratamentos alternativos estão todas em um processo de busca pessoal. Há aqueles que estão apenas procurando solução para um problema físico, como por exemplo uma dor localizada, e que nem sempre integram o sintoma ao processo psicológico pelo qual estão passando. Outros estão buscando alguma coisa que não sabem o que é ou trazem problemas que não sabem definir exatamente. Há situações de crise existencial e há aqueles que simplesmente buscam um terapeuta mais compreensivo. Em conseqüência, a terapia às vezes funciona para o paciente como catalisadora de um processo de autoconhecimento. Sua permanência em terapia é breve. Em outros casos, o terapeuta aponta que o tratamento serve como a base que o paciente procurava para levar adiante o seu processo de busca interior. "Elas não buscam mais aquele psicólogo tradicional, né (...) mas que eles possam falar da religião deles, que eles possam ouvir, de vez em quando, uma coisa diferente e isso não estar dentro da loucura" (T8).
1.4-Da Prática Terapêutica
As definições de terapia oferecidas pelos terapeutas variaram de acordo com sua versão de identificação da abordagem. Houve definições mais abertas, como por exemplo, "é uma abordagem psicossomática" (T2) e definições mais específicas, como, por exemplo, "a terapia regressiva a vivências passadas consiste no seguinte: a pessoa relaxa e, através do relaxamento, a pessoa revive um acontecimento traumático do seu passado"(T7). Em contraste, houve definições fragmentadas baseadas nas técnicas utilizadas, em descrições de certas qualidades do trabalho ou em comparações com a psicoterapia tradicional. Por fim, apareceram também definições contraditórias no que se refere à identidade com a terapia:
"Então, eu tô fazendo uma terapia, uma medicina que é alternativa, não é uma terapia, é uma companhamento terapêutico no tratamento de florais de Bach" (T10).
Os recursos técnicos utilizados pelos terapeutas em suas práticas estão aqui agrupados conforme a sua linha ou abordagem. Na TRVP, são utilizados o relaxamento, a visualização criativa e a hipnose ericksoniana, que é definida como uma "hipnose consciente", na qual o paciente se lembra de tudo o que aconteceu. Considera-se que as técnicas agem conjuntamente no processo. A visualização criativa é utilizada como uma preparação para o paciente entrar no processo hipnótico, e ambos só ocorrem em um estado de total relaxamento. Nesta técnica, o terapeuta pede para o paciente fechar os olhos e imaginar lugares ou situações que lhe sejam agradáveis. Os terapeutas de regressão concordam sobre a necessidade de uma anamnese para determinar se o paciente necessita ou não da técnica regressiva.
Os terapeutas que centram a sua prática nos Florais de Bach ressaltam a importância da conversa com o paciente e de que ele acredite que aquela essência que ele tomou irá lhe fazer bem.
Os terapeutas de abordagem psicossomática utilizam a massagem em conjunto com os florais e óleos aromáticos essenciais (aromaterapia) os quais, segundo os depoentes, possuem efeitos sobre a psique. As técnicas fazem parte de uma estrutura relativamente bem definida. Inicia-se com uma anamnese para se definir quais problemas devem ser tratados. Enfatiza-se que são sempre considerados os níveis psíquico, energético e corporal. Para tanto, utiliza-se massagem e exercícios físicos.
Nas terapias de abordagem holística, os terapeutas possuem um repertório de técnicas e as utilizam conforme o caso, como informa T9: "Olha, eu aprendi muito com a antropossofia... a usar aquarela com pessoas muito rígidas. Trabalha com a estrutura das cores. Eu gosto de usar argila, uso a regressão, uso o floral, uso a pintura, guache, também... e a verbalização". Como recurso técnico desta abordagem é citada, ainda, a cromoterapia (terapia das cores), que pode ser associada à musicoterapia, onde um determinado estímulo luminoso é aliado a uma freqüência sonora, o que produziria efeitos curativos. Além da iritervenção verbal, utiliza-se a "visualização criativa", "eletromagnetoterapia", recursos orientais (como histórias do I Ching) e vendas nos olhos do paciente.
Coordenadora de grupos de auto-ajuda espírita, T6 diferencia-se dos demais terapeutas, pois não utiliza nenhuma técnica específica, valendo-se da sua intuição e da experiência em coordenar grupos.
1.5 - Das Crenças e Sentimentos sobre a Terapia Alternativa
Os terapeutas descrevem seu trabalho e seu envolvimento com os tratamentos alternativos como uma experiência de elaboração dos próprios conflitos. Essa elaboração é vista como uma necessidade ou mesmo como uma convicção, como relata o sujeito T2: "Me dá vontade, assim, de falar agora, do quanto a gente como terapeuta tem que ser um paciente (...) Você não vai conseguir tratar a pessoa, naquilo que pra ti ainda tá mal resolvido". Eles declaram agir na relação com o paciente como um agente facilitador. No entanto, alguns sujeitos caracterizam a situação de terapeuta também como de liderança e até mesmo de poder. "Então, eu vejo assim, que muitas pessoas me dão um tremendo poder, eu sou quase o... sei lá, o mago que ajuda elas, um religioso, o grande doutor, né" (T5). Outra constante nos relatos dos terapeutas é a descrição de uma postura de questionamento do próprio trabalho, dúvidas sobre sua eficácia ou sobre a própria atuação, e o cuidado com a reputação profissional.
1.6-Do Processo Terapêutico
As descrições do processo terapêutico variam de acordo com as respectivas abordagens. Na TRVP o processo terapêutico consiste em uma regressão de memória a uma situação passada onde ocorreu um trauma, e uma consequente elaboração desta vivência do paciente. Tal processo se daria pelo fato de a pessoa estar ligada à situação traumática de forma pouco saudável, por tê-la vivenciado sem refletir. Nesse processo, o terapeuta ajudaria o paciente a adquirir a consciência do trauma e a interpretar todos os simbolismos que aparecem durante a regressão. A partir daí, seria possível fazer uma "reprogramação" e "dár uma nova ordem para o inconsciente" (T8). Segundo os terapeutas de regressão, o processo de cura completo se dá, em média, em dez sessões. Nos tratamentos psicossomáticos, o processo terapêutico ocorre quando a pessoa trata seu problema físico e, conjuntamente, descobre que as causas destes problemas podem ser psíquicas. Um exemplo é o relato de T2: "As técnicas, elas agem a cada nível, sinergetica-mente. Só no físico não adianta tu tratares, que voltam os sintomas". As técnicas agiriam no sentido de equilibrar "o corpo físico" e o "corpo energético" da pessoa.
No caso da terapia floral (T10), os florais atuariam também como forma de equilibrar a pessoa, pois cada essência representaria a energia positiva em relação ao mal-estar sentido pelo paciente, visto como uma "energia negativa". O processo tem por base uma tomada de consciência dos próprios problemas, do mais superficial ao mais profundo: "Como toda terapia, a terapia floral é como o descascar de uma cebola, vai tratando as partes mais superficiais, vai aparecendo, de uma forma assim, dá pra se dizer, as partes mais profundas, aquelas do núcleo" (T10).
1.7-Da alta
A alta é decidida em conjunto com o paciente; tanto um terapeuta pode observar a remissão dos sintomas e as mudanças substanciais no modo de ser do paciente, quanto este explicitar que sente-se bem e curado.
2. Terapias Alternativas: A percepção dos pacientes
2.1 - Do Procura pelo Tratamento e seus motivos
Os pacientes informaram que a aproximação de uma terapia alternativa deu-se através da indicação, por um familiar ou conhecido, de uma instituição ou terapeuta; ou por acaso, através de anúncios, palestras e meios de comunicação. Os pacientes referem-se à percepção de seus problemas como motivo principal da busca pelo tratamento. Eles definiram-se, na época da procura do tratamento, como pessoas desorganizadas, muito rígidas, "fechadas", com baixa auto-estima, muito tensas, com muitos medos. Essas pessoas podiam estar, ainda, conforme suas descrições, em um período de questionamento e "angústia existencial", e decepcionadas com terapias convencionais.
2.2- Dos Terapeutas
Os pacientes descrevem os terapeutas como estimuladores da reflexão e dos questionamentos. Os terapeutas demonstram vontade de curar o mais rápido possível: "a gente vê que ela conduz de uma forma realmente para resolver os problemas, (...) sem se preocupar com a quantidade de tempo" (P7). São profissionais que apóiam o paciente fora do ambiente terapêutico, como em telefonemas fora do horário de atendimento: "Eu me senti bem apoiada por ela; é uma pessoa super atenciosa, tipo... dá os florais, se dá algum efeito colateral ou se tu te sente
angustiada, tu telefona pra ela" (P3). A relação terapêutica foi considerada muito boa pelos pacientes. Quando algum aspecto negativo foi apontado ressalvou-se que não comprometeu o tratamento: "Acho ela uma pessoa autoritária, bem prepotente, mas eu acho que ela conduz muito..." (P5). Houve relatos de mal-estar passageiro na relação com o terapeuta, posteriormente interpretado como uma reação natural à abordagem de alguma questão delicada, necessária ao bom andamento da terapia. Houve menção de amizade com terapeuta, de sentir-se identificado com ele, ou de tomá-lo como modelo.
2.3-Do Vivência Terapêutica
Sobre a vivência terapêutica os pacientes destacaram a liberdade que o terapeuta dá para falar, sendo isso entendido como um dos fatores que caracterizam a terapia como alternativa: "eu considero, assim, que seja alternativa, porque eu posso falar do que eu quiser, sabe, ele não conduz a entrevista em nenhum momento"(P10). O assunto tratado em cada sessão, segundo os entrevistados, é trazido de improviso, sem um planejamento prévio, a não ser quando há algum assunto pendente de uma sessão anterior. Os pacientes geralmente sentem-se bem após as sessões, com a impressão de que conseguiram resolver alguma coisa, ou de que estão mais conscientes dos próprios problemas. Os exercícios de relaxamento ou meditação, presentes em todas as abordagens, são considerados eficazes pelos pacientes.
2.4 - Das Crenças e Sentimentos sobre a Terapia Alternativa
A terapia é considerada pelos pacientes como um momento de reflexão, para "pensar coisas da gente" ou para dedicar-se a si mesmo. Esses momentos, então, propiciam uma tomada de consciência, com a orientação do terapeuta e com o auxílio das técnicas utilizadas. Os pacientes relatam que a terapia é "uma coisa boa", que sentem-se bem, na maioria das vezes, com exceção de algumas sessões, aquelas em que experimentaram momentos dolorosos decorrentes de muita exposição a temas delicados.
2.5   - Das Mudanças Decorrentes do Tratamento.
Os pacientes atribuem ao tratamento melhoras na capacidade de lidar com os próprios problemas, mudanças na visão de mundo e na relação com as outras pessoas e a remissão de sintomas físicos. Tais mudanças, segundo os pacientes, foram percebidas não só por eles mesmos, mas também por familiares e amigos.
2.6 - Da alta
A alta é descrita pelos pacientes como o resultado de um acordo entre os sentimentos do paciente e a determinação do terapeuta. O paciente pode ter a consciência de ter mudado certos comportamentos, de não mais depender do terapeuta, ou, simplesmente, "estar pronto." Os pacientes relatam, contudo, dificuldades em fazer uma previsão exata sobre um eventual final de tratamento. Eles vinculam esse prognóstico a uma avaliação dos objetivos já alcançados e de sua capacidade de viver sem a terapia ou sem o terapeuta.
Redução Qualitativa e Interpretação
A análise indutiva (redução) concentrou-se na investigação do sentido que vai sendo construído entre as três fases da pesquisa. Assim, detém-se no exame das seguintes relações: 1) procedimentos para criação de evidência, isto é, a entrevista enquanto recuperação de uma experiência retrospectiva (acta); 2) procedimentos de documentação de evidência, a gravação em audioteipe da entrevista (data, incluindo transcrição e entonação); 3) procedimentos para interpretação da mensagem, tanto na perspectiva compreensiva da fala dos entrevistados (descrição) quanto na perspectiva crítica dos pesquisadores (redução e interpretação). Note-se neste critério de análise a ocorrência de duas etapas distintas de pesquisa. A primeira foi a composição de uma descrição enquanto síntese das entrevistas que é um procedimento interpretativo. Segundo, a análise da descrição apresentada enquanto uma proposta para debate de uma interpretação crítica, apresentada a seguir.
1. A compreensão e interpretação das descrições e informações teóricas sobre terapias alternativas tomou como contexto a especificidade comunicativa das relações consideradas terapêuticas em geral (acta).
2. O critério de explicação está baseado em um pressuposto "cético" do não reconhecimento de poderes místicos ou mágicos, mas sim do reconhecimento do uso da retórica mítica ou mágica enquanto fortalecimento de poder pessoal de influência (acta).
3. As descrições oferecidas pelos pacientes trazem as mesmas características narrativas e metafóricas de descrições oferecidas por pacientes de terapias convencionais (data) (vide Gomes el al, 1988; 1993), o que permite identificá-las como constituindo-se em uma mesma forma estrutural (capta). Assim, as características descriminatórias destes tratamentos, conforme descrição de terapeutas e pacientes não foram consideradas como especificadoras (acta).
4. Os terapeutas mostraram, em suas entrevistas, como articulam teoria e técnica (data), deixando transparecer a sincronia entre ação técnica e ação comunicativa (capta) em diacronias como, por exemplo, a ênfase numa associação forçada entre uma essência floral e a crença no seu efeito (data), o que sugere a realização de estudos focais sobre essas associações (capta).
5. Os terapeutas não indicaram em suas respostas elementos mágicos ou místicos mas mostraram-se conscientes de aspectos convencionais de estruturas terapêuticas (diferenciação de expressão de sintoma vs. percepção de processo psicológico - data). No entanto, tal comportamento verbal pode estar associado à percepção da vinculação dos pesquisadores ao saber convencional, ou a procura de uma linguagem conhecida e respeitada pelos pesquisadores ou, ainda, ao modo de acesso a este grupo seleto de terapeutas. Eles foram indicados por estudantes de psicologia ao serem por estes classificados como "alternativos sérios" o que, por oposição, conota a existência de alternativos não-sérios, que não foram mas deveriam ter sido entrevistados (capta).
6. As articulações entre teoria, psicopatologia, técnica e processo, nas diferentes modalidades de tratamento (data), foram tipificadas como especificadoras (os tratamentos apresentam características próprias - capta), o que sugere a realização de estudos específicos para cada tratamento (acta). Tais estudos devem considerar também a literatura de referência destas teorias para restabelecer os alegados e subjacentes pressupostos ontológicos e epistemológicos (construção versus desconstrução).
7. Ressalte-se nas respostas (data) a supremacia explicativa dos psicólogos em comparação com os terapeutas que não são psicólogos (capta). Todavia, não podemos sustentar que maior habilidade de explicação teórica assegure maior habilidade de performance técnica, principalmente se por ação técnica se entenda um modo peculiar de se colocar em uma comunicação interpessoal dominante (acta).
8. Qual a validade destas interpretações? Qual a fidedignidade dos recortes das entrevistas efetuados pelos pesquisadores? Qual a confiabilidade das descrições oferecidas pelos participantes da pesquisa? A fala da experiência terapêutica remete necessariamente à consciência do benefício terapêutico? Mas, afinal, o que é benefício terapêutico? Seria o desaparecimento do sintoma? Ou, ao contrário, seria a exacerbação do sintoma? Ou, ainda, a convivência amistosa com o sintoma? Ou, quem sabe, a aceitação do sintoma como a mais legitima expressão de si? Ou, todavia, a discriminação do sintoma como um hábito arraigado? Enfim, o que na experiência de conjunções entre expressão (como respondo ao outro e a mim mesmo) e percepções (como penso as minhas respostas ao outro e a mim mesmo) deve ser considerado sintoma? Estas perguntas abrem um imenso leque para interpretações a partir do grande número das teorias terapêuticas convencionais. Na verdade, a comunalidade das respostas apresentadas com estudos similares sobre eficiência terapêutica levantam questões metodológicas importantes.
9. Descrições qualitativas são apenas indicadores de tipicalidades. Apontam para ocorrências e recorrências no mundo sem nenhuma força universalizadora. Se estudos similares com terapias convencionais trazem alguma verdade, alguma verdade existe nas conclusões apresentadas. Caso contrário, ou o método é inadequado ou sabemos muito pouco do processo e eficiência terapêutica. De qualquer forma, as conclusões deste estudo sugerem, de acordo com a literatura, que o diferencial terapêutico não está na teoria (ideologia) mas na pessoa que está em um lugar dito terapêutico (retórica), mesmo em situações que surpreendem o status quo. Nestes termos, tomando-se as teorias estudadas como integrantes de um mesmo contexto repete-se a premissa de que diferentes concepções teóricas dos terapeutas não tipicalizam percepções de experiências terapêuticas para os pacientes.
10. Reconheça-se, todavia, que estes terapeutas mostraram-se preocupados com a regulamentação de suas práticas, com a legitimidade de sua formação alternativa, com os limites de seu conhecimento técnico/teórico e com a pesquisa da eficiência de suas técnicas.

Discussão
Implicações lógico-metodológicas dos resultados.
A Revista "American Psychologist" (1996) trouxe na capa de um número dedicado à avaliação de resultados de psicoterapia o seguinte comentário de Hans H. Strupp, um dos mais importantes pesquisadores em eficiência psicoterapêutica: O problema de avaliação de resultados da psicoterapia continua incomodando a área como fazia há um século atrás, quando a psicoterapia moderna estava apenas começando. Apesar de centenas de estudos e de demonstrações frequentemente repetidas de que pessoas que passam por tratamentos psicoterapêuticos se beneficiam de uma forma ou de outra, ainda persiste um ceticismo generalizado, e cada estudo adicional é tratado como se fosse o primeiro.
Na verdade, o número especial do "American Psychologist" dedicado à avaliação dos resultados das psicoterapias traz as repercussões de um artigo polêmico publicado um ano antes na mesma revista. Neste artigo, Seligman (1995) apresenta e discute um conjunto de dados sobre eficiência psicoterapêutica obtidos através de uma pesquisa de opinião do "Consumer Reports" (1995, November). Os principais resultados são os seguintes: pacientes beneficiam-se substancialmente dos tratamentos psicológicos; tratamentos de longa duração (entre seis a dezoito meses) apresentaram melhores resultados que tratamentos de curta duração; resultados de psicoterapia não diferem em eficiência de resultados de psicoterapia combinada com medicação; nenhuma modalidade terapêutica mostrou-se melhor do que outra em qualquer tipo de desordem; psicólogos, psiquiatras e assistentes sociais não se diferenciam em sua eficiência como terapeutas. No entanto, o aspecto de particular interesse neste artigo é de que a pesquisa de opinião do "Consumer Reports" mostrou-se um complemento importante para os estudos tradicionais e bem controlados sobre eficácia terapêutica. Por pesquisa de eficácia (efficacy) entende-se aqueles estudos que utilizam grupos de controle, número fixo de sessões, técnicas determinadas por manuais e que selecionam sujeitos com problemas psicológicos muito bem definidos e minuciosamente diagnosticados. Por pesquisa de eficiência (effectiveness) entende-se aqueles estudos retrospectivos que abordam as pessoas no mundo real, onde não existem controles previamente determinados.
As conclusões de Seligman são importantes para um exame crítico da metodologia em uso nesta pesquisa. Na avaliação de Seligman a metodologia do estudo da "Consumer Reports" vai ao encontro da prática que ocorre de fato no mundo real das psicoterapias. Nesse mundo, não há número de sessões previamente determinado, o tratamento é autocorretivo, pacientes em geral tendem a ser ativos (iniciativa própria de buscar o tratamento) e não passivos (encaminhado por algum profissional ou serviço), os problemas são múltiplos e há uma preocupação clínica com a melhoria geral do paciente.
Os dois aspectos mais questionáveis da metodologia do presente estudo são: 1) a utilização de auto-relatos e 2) referir-se a experiências retrospectivas. Seligman argumenta então que pode haver incorreções em auto-relatos sobre o que levou a pessoa ao tratamento, o tipo de terapia que ela fez ou está fazendo, dificuldades em avaliar suas melhoras em problemas específicos, na produtividade no trabalho e nas relações interpessoais. Contudo, estas incorreções são aletórias e não sistemáticas, e estão sempre presentes nas relações entre terapeuta e paciente. Complementa Seligman que a correlação entre diagnósticos e auto-relatos é alta.
Os principais comentários referentes às posições de Seligman (1995) que aparecem no número especial do "American Psychologist" (1996) apontam, principalmente, para defesas de preferências metodológicas na avaliação de resultados de psicoterapias. Há defesas ardorosas de estudos de eficácia (Hollon, 1996, e Jacobson & Christensen, 1996). Por outro lado, há um consenso entre os pesquisadores de que dados obtidos por auto-relatos, desde que complementados por outros tipos de estudo, como, por exemplo, estudos de caso único (Goldfried & Wolfe, 1996) ou um modelo tríplice constituindo-se em: 1) observação para verificação de comportamento adaptativo, 2) auto-relato para comunicação de senso de bem estar e 3) exame de estrutura de personalidade (Strupp, 1996). Ressalte-se contudo que Jacobson e Christensen (1996) reconheceram que estudos de caso único e métodos de pesquisa qualitativa "são especialmente relevantes para os terapeutas e que nesta área os terapeutas podem desempenhar um papel importante no delineamento e execução de seus estudos" (p. 1038). Estudos defendem o uso de métodos diferentes na avaliação de eficiência terapêutica, considerando que se deve estender os delineamentos das pesquisas de resultados de psicoterapias a fim de que se alcance com eles tópicos dos estudos de eficiência (Walsh, 1995). Há, ainda, a proposta de uma abordagem hermenêutica da questão dos valores em jogo na avaliação de resultados de psicoterapias (Clarke, 1995).
Por meio do uso de métodos qualitativos de pesquisa em psicoterapia (Gomes, Reck, Bianchi & Ganzo, 1993) adquire-se uma perspectiva que é concomitantemente mais abrangente e mais rigorosa do que a tradição de ciência natural comum aos estudos da eficácia psicoterapêutica. Trabalha-se com auto-relatos e experiências retrospectivas, mas o modo de abordagem é clínico. As entrevistas, ao contrario dos questionários, não demarcam contextos, mas oferecem pistas para que contextos sejam construídos. O entrevistador acompanha a formulação das respostas esclarecendo com o entrevistado os sentidos da mensagem. Assim, a pesquisa qualitativa, da mesma forma que a boa psicoterapia, é também autocorretiva. A atitude fenomenoló-gica da suspensão de pressupostos e a evidência semiótica das descrições levam-nos a análises estruturais que detectam possíveis incorreções. Transformações de "capta" (interpretações qualitativas) em dados (interpretações quantitativas) e o reverso asseguram aos nossas achados (conclusões empíricas) e tomados (conclusões eidéticas) a validação nos termos definidos por Guba (1981): coerência geral da pesquisa resultará em credibilidade (validade interna); descrições paralelas resultarão em transferibilidade (validade externa), uso de instrumentos simultâneos resultará em estabilidade (fidedignidade); e apresentação de interpretações baseada em diferentes perspectivas produzira análises confirmatórias.
Desta forma, as interpretações apresentadas devem ser vistas com cautela mas apontam para uma avenida de possibilidades no estudo destes tratamentos. Novos estudos devem ser realizados comparando-se casos clínicos de uma única abordagem e também procurando esclarecer a contribuição que profissionais com formação em psicologia estão levando para estas práticas.
Implicações epistemológicas dos resultados
Na revisão de literatura no início deste texto foram apresentadas duas interpretações radicais sobre os tratamentos alternativos. Lembre-se que Marques (1994) reconheceu nestes tratamentos indícios de novos paradigmas psicológicos decorrentes da pós-modernidade. Ao contrário, Tourinho e Carvalho (1995) identificaram nos tratamentos alternativos uma incompatibilidade lógica entre a conjunção de caso e resultado com o enunciado de regras explicativas. Para os autores as explicações apresentadas como justificativas da relação entre caso (sintoma e intervenção) e resultado terapêutico contrariam os pressupostos aceitos pela tradição de ciência natural ou de ciência humana em psicologia.
Os resultados do presente estudo, embora atrelados a uma lógica de ciência humana rigorosa, mas sem negar a importância do uso da lógica da ciência natural no estudo de fenômenos psicológicos, apontam para a necessidade da investigação empírica das técnicas alternativas. Primeiro, reconhece que influências tidas como terapêuticas estão presentes em uma grande variedade de relações interpessoais, artísticas, religiosas, culturais e reflexivas. Segundo, entende que é dever dos pesquisadores em psicologia investigarem e dominarem as propriedades psicológicas destas influências. As técnicas usadas nestes tratamentos, seja através de retórica, reagentes químicos ou exercícios físicos devem ser cuidadosamente investigado. Deve-se focalizar o fenômeno em si e não as possíveis explicações destes fenômenos. Terceiro, este estudo não vê nestes tratamentos nenhum prenúncio de pós-modernidade, pois o que parece ocorrer é a substituição de dogmas convencionais por dogmas não convencionais. Não há uma preocupação em manter qualquer pressuposto sempre sorre suspeita (vide, por exemplo, Gadamer, 19S9). Quarto, espera-se que estas pesquisas ampliem a compreensão destes fenômenos e subsidiem programas preventivos e remediadores de intervenções psicológicas, tendo como contexto o universo de crenças culturais. Por último, interpreta-se que a procura dos psicólogos por formação em terapias alternativas pode estar relacionada com dificuldades na clarificação de pressupostos pessoais e das relações destes com pressupostos históricos e científicos da psicologia.

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